Sporting-Benfica: dados para alimentar as conversas sobre o dérbi
Source: TVI
Alvalade, 20h30. O reencontro entre Sporting e Benfica tem agora vista para o título, depois de um duelo a meio da semana que não deixou muito tempo para respirar fundo e alimentou ainda mais a expectativa sobre o que acontecerá neste sábado. O dérbi número 90 para a Liga em casa do Sporting tem tudo o que é preciso para escrever mais uma página memorável na história centenária da rivalidade entre os gigantes de Lisboa.
Há um ponto a separá-los, o Sporting vai na frente, com um jogo a menos, e não restam dúvidas de que o campeão 2023/24 estará esta noite em Alvalade, quando o FC Porto já está a dez pontos de distância da frente.
O dia será longo e para ajudar a passar o tempo o Maisfutebol juntou vários dados para ir alimentando as conversas. Factos, números e curiosidades em torno do que está em jogo, das tendências históricas, do momento das duas equipas.
O dérbi deste sábado não é formalmente decisivo, depois dele ainda falta muito caminho. Ficam seis jogos por disputar para o Benfica e sete para o Sporting, que só acerta o jogo em atraso da 20ª jornada a 16 de abril, em Famalicão. E há alguns pontos quentes ainda no calendário: o Sporting ainda vai ao Dragão, o Benfica ainda recebe o Sp Braga, por exemplo. Mas este é o duelo crucial na corrida ao título. Como admitiu Roger Schmidt, sabendo que para o Benfica só um resultado positivo em Alvalade pode continuar a alimentar a esperança. Desse ponto de vista, é mais decisivo para as águias. Mas também é importante para o Sporting, para utilizar as palavras de Amorim. Uma vitória pode representar o embalo definitivo, um empate mantém o leão na frente. Seja qual for o resultado, o Sporting é a única equipa que continua a depender apenas de si própria, mas um triunfo do Benfica, além de representar a ultrapassagem provisória na liderança, colocaria indiscutivelmente pressão no que resta de Liga.
Na história da Liga não faltam dérbis que definiram o campeão em confronto direto, com memórias que perduram até hoje. Como aquele dos quatro golos de Peyroteo que viraram o campeonato de 1949, que ficou para a história como o campeonato do pirolito. Ou o de 1986/87, na época da vitória do Sporting por 7-1 na primeira volta, quando o Benfica acabou por festejar o título em pleno dérbi, na penúltima jornada. E depois o 3-6 de Alvalade em 93/94. Com o crescimento do FC Porto, essa tendência diluiu-se e neste século apenas por duas vezes o dérbi da segunda volta representou um marco definitivo na decisão do título: em 2004/05, no golo de Luisão na penúltima ronda que deixou o Benfica na frente e em 2015/16, quando a Liga virou a favor do Benfica no dérbi, à 25ª jornada. É o mais recente, mas também o melhor exemplo de como o confronto direto na segunda volta da Liga pode ser crucial. Nessa época, o Benfica chegou a Alvalade a um ponto de distância, saiu líder e não voltou a perder pontos. O Sporting também não perdeu qualquer ponto até ao fim, mas o título foi vermelho.
O passado recente não é favorável ao Sporting, que na última década apenas venceu uma vez o Benfica em casa para o campeonato. Foi em 2020/21, na caminhada para a conquista do título, quando um golo de Matheus Nunes no tempo de compensação decidiu o dérbi da primeira volta. Nesse período há ainda quatro vitórias do Benfica e cinco empates. É uma tendência com raízes históricas. De todos os clássicos de Liga entre os três grandes do futebol português, o dérbi de Alvalade é o mais equilibrado. E a vantagem é do Benfica. Em 89 jogos houve 33 vitórias do Sporting e 34 das águias, além de 22 empates. Mas esta não é uma tendência absoluta. Não é preciso ir muito longe para encontrar uma vitória caseira do Sporting no dérbi. Foi há pouco mais de um mês, na primeira mão da meia-final da Taça de Portugal.
Este será o quarto dérbi da época, o segundo em cinco dias, depois do empate na Luz que garantiu ao Sporting a presença na final da Taça de Portugal. Já se registaram todos os resultados possíveis. Para a Liga, foi o Benfica a vencer em casa, na 11ª jornada, naquele 2-1 com direito a reviravolta. Depois de Gyökeres dar vantagem ao Sporting, as águias viraram o jogo nos descontos, com golos de João Neves e Tengstedt. No final de fevereiro, a primeira mão da meia-final da Taça de Portugal acabou também com um 2-1, mas a favor do Sporting. Em Alvalade marcaram Pote e Gyökeres, antes de Aursnes reduzir. Agora, o 2-2 que decidiu o primeiro finalista da Taça voltou a ser um grande jogo, teve uma das melhores exibições da época do Benfica e teve o Sporting a segurar o objetivo principal.
O equilíbrio prolonga-se se olharmos para o confronto direto entre os dois treinadores. Ao fim de cinco duelos, há uma vitória para cada lado e três empates. Recorde-se que ambos os confrontos da época passada terminaram com uma igualdade a duas bolas. E já vem da última temporada outra tendência destes duelos. Em todos esses dérbis o Sporting marcou primeiro e esteve em vantagem. Só conseguiu mantê-la e vencer na primeira mão da meia-final da Taça, embora na segunda mão tenha conseguido segurar o empate que valeu o apuramento. Voltando aos treinadores, Roger Schmidt ainda procura a primeira vitória em Alvalade, à terceira tentativa. Quanto a Rúben Amorim, tem um historial mais longo de confrontos com o Benfica, que se salda também por uma igualdade: em 11 jogos como treinador do Sporting, ganhou três, perdeu outros três e empatou quatro. A esses há ainda a somar uma vitória como treinador do Sp. Braga, 1-0 na Luz em 2019/20.
O Sporting está a fazer uma campanha notável na Liga. Com 68 pontos em 26 jornadas, tem o seu melhor registo pontual de sempre por esta altura. E também um dos melhores na história da Liga, desde que as vitórias valem três pontos - só foi superado seis vezes, com o recorde, 74 pontos em 26 rondas, a pertencer ao FC Porto campeão em 2010/11. É nessa solidez que assenta a liderança do leão, que tem mais dois pontos do que os que somava nesta altura em 2020/21, na caminhada para o título. Na atual campanha o leão sofreu apenas duas derrotas, na Luz e em Guimarães, e cedeu dois empates, em Braga logo na 4ª ronda e mais recentemente em Vila do Conde. Em casa, o registo é perfeito: 13 jogos e outras tantas vitórias. O líder tem além disso, de longe, o melhor ataque da Liga, com 77 golos marcados.
Com menos quatro pontos do que tinha há um ano por esta altura na caminhada para o título, o Benfica começou a Liga a correr atrás, depois de perder com o Boavista na primeira jornada. Essa foi a única derrota do campeão na primeira volta, quando venceu ambos os clássicos, com FC Porto e Sporting - altura em que igualou os leões na liderança - mas perdeu pontos em empates com Casa Pia e depois em jogos consecutivos com Farense e Moreirense, logo a seguir ao triunfo no dérbi. Na segunda volta, além do empate em Guimarães, estatelou-se no Dragão, uma goleada por 5-0 que trouxe à tona todas as dúvidas de uma época irregular, entre exibições sofríveis e questões em torno das opções do treinador. Ainda assim, é a única equipa portuguesa que continua na Europa, com duelo frente ao Marselha marcado para a próxima semana, e pode encontrar ânimo na forma como reencontrou no dérbi do início da semana a sua melhor versão.
Os três dérbis desta época valeram 10 golos, na temporada passada foram oito em dois jogos. Mantêm portanto bem viva outra tradição. Dérbi que é dérbi tem golos e com fartura. No histórico da Liga, a média é de três golos por jogos e em absoluto neste século houve apenas três dérbis sem golos, num total de 60 confrontos. Gyökeres foi o único que marcou dois golos nos duelos desta época, enquanto entre os jogadores dos atuais plantéis a lista de goleadores é liderada por Rafa e Pote, com quatro golos cada um. Estando frente a frente os dois melhores ataques da Liga, estão reunidos todos os ingredientes para acreditar que, por aí, o dérbi estará à altura do momento.
Viktor Gyökeres chegou e arrebatou a Liga. Melhor marcador do campeonato, ainda que seguido de perto pelo bracarense Banza, o avançado sueco já leva 22 golos, a que junta seis assistências, nas estatísticas da Liga, e uma influência avassaladora na abordagem ofensiva do Sporting, mesmo quando não marca. É o jogador mais influente da Liga. Do lado do Benfica, é Rafa quem tem esse estatuto. Veterano de muitas batalhas, o jogador que pode estar a fazer a última época na Luz leva 12 golos marcados, a que junta 11 assistências.
Pote junta-se à festa, recuperado após lesão. Rúben Amorim volta a contar com um dos jogadores de referência do Sporting, o terceiro mais utilizado no campeonato pelo treinador dos leões. A lista é liderada por Gyökeres, o jogador do Sporting com mais tempo de jogo na Liga, 2240 minutos divididos por 25 jogos. Em 26 jogadores utilizados por Rúben Amorim no campeonato, nenhum jogou todas as partidas. No Benfica, Roger Schmidt já utilizou 30 jogadores, mas concentra mais as apostas num núcleo duro, liderado pelo todo o terreno Aursnes, que soma 2327 minutos. Otamendi e Rafa completam o pódio, enquanto João Neves é, a par de Aursnes, o único jogador utilizado em todas as partidas da Liga.