Saudação a um notável divulgador da memória de Portugal no mundo (A propósito do seu último livro)
Source: JTM
"'Portugueses no Oriente. Antes e depois de Fernão de Magalhães' é a obra mais recente de Joaquim Magalhães de Castro. Que ela proporcione a todos uma agradável e estimulante leitura e o seu sucesso editorial incentive o autor a ir sempre mais longe, porque muito podemos ainda esperar da sua capacidade, erudição, disponibilidade e generosidade."
Nas funções oficiais e académicas que fui desempenhando no âmbito da educação e cultura e pelas responsabilidades que assumi, tanto na Administração de Macau como em organismos culturais e associativos de Portugal e junto de organizações internacionais, pude acompanhar, bastante de perto e com crescente admiração, a obra extraordinária de Joaquim Magalhães de Castro, de divulgação da memória de Portugal no mundo. Apraz-me, pois, deixar aqui algumas breves mas muito sentidas palavras de saudação e homenagem ao incansável, perseverante, qualificado e prolífico investigador que, nos lugares mais recônditos dos territórios onde as rotas e os roteiros dos portugueses deixaram lastro da sua passagem ou permanência, longa ou efémera, foi procurando e identificando o património construído, artefactos, usos e costumes, lendas e tradições, crenças e práticas religiosas, trajes e sabores, ainda hoje presentes em pequenas comunidades descendentes e outras "pedras vivas" que integram o imenso legado luso que urge continuar a promover, dignificar e valorizar de forma muito mais ampla e consequente.
Os trabalhos por ele elaborados ao longo de mais de três décadas, e já publicados em sucessivos volumes, além de incontáveis crónicas e artigos inseridos em jornais e revistas, documentários interessantíssimos e belíssimas fotografias que deram lugar a expressivos álbuns e muito visitadas mostras, revelam exuberantemente as suas qualidades e o alto valor do seu labor, na busca e divulgação continuada de marcos eloquentes ou de simples marcas residuais das viagens dos portugueses em demanda de longes terras e outras gentes. O horizonte, que para tantos representou o limite, foi um constantemente renovado desafio, que ele entendeu e abraçou, impelido pela ânsia de transpor obstáculos e ir mais além, de tudo querendo fazer registos perenes.
Natural das Caldas de S. Jorge (Santa Maria da Feira) e formado em História, na variante Arte e Arqueologia, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Joaquim Magalhães de Castro é escritor, jornalista independente, fotógrafo, produtor e realizador, investigador da História da Expansão Portuguesa e um viajante singular que fez da vida uma aventura permanente de descoberta e partilha. Nas suas andanças pelo exótico Oriente, escolheu Macau para ser a sua nova casa e foi aqui que o conheci e pude tomar contacto com o valiosíssimo contributo que ele foi dando à divulgação da memória lusa, ao mesmo tempo que foi alargando as suas intensas pesquisas a outros continentes, mesmo sem dispor de apoios obviamente necessários. Como ele próprio referiu, na nota de abertura de um dos seus livros, ao longo de muitos anos foi "embaixador itinerante" do seu país, Portugal, e "pioneiro, quantas vezes presente nos recônditos mais perdidos e inesperados do globo".
De entre os seus livros mais procurados, alguns dos quais recomendados para o Plano Nacional de Leitura de Portugal, encontro nas minhas estantes "Mar de Especiarias - Viagem de um Português na Indonésia" (2009), "Viagem ao Tecto do Mundo - O Tibete Desconhecido" (2010), ambos da Editorial Presença, dirigida por um meu saudoso amigo e primo, Francisco da Conceição Espadinha, entretanto falecido, "Oriente Distante" (2012), da Oficina do Livro, sobre as suas peregrinações pelo Oriente, em demanda do Sinquião (Xinjiang) e outras vastas áreas da China, o Quirguistão, a Mongólia, o Japão, o Vietname e o Camboja, "No Rasto de Fernão Mendes Pinto" (2013), "Os Filhos Esquecidos do Império" (2014) e "Costa da Memória" (2015), das Edições Parsifal. Também são dele os álbuns fotográficos, todos com textos e legendas primorosamente conseguidos: "Os Bayingyis do Vale do Mu - Luso-Descendentes na Birmânia" (2001), "A Maravilha do Outro - No Rasto de Fernão Mendes Pinto" (2004), "Patrimónios Comuns" (2013) e "Sagres - A Nossa Barca" (2017). Tive o prazer de assistir ao lançamento de vários destes volumes, em Lisboa e em Macau.
Além de exposições fotográficas de superior qualidade, Magalhães de Castro foi autor de importantes documentários para televisão, entre os quais "Bayingyi - A Outra Face da Birmânia" (2001), "Himalaias - Viagens dos Jesuítas Portugueses" (2009), "De um lugar para o outro - Diários da Mongólia" (2012), sobre a vida e obra do jesuíta Tomás Pereira, "Sande - Um Humanista na China" (2013), sobre o jesuíta Duarte de Sande, e "No Reino do Dragão" (2018), sobre a viagem ao Butão e ao Tibete de Estêvão Cacela e João Cabral. Também participou na iniciativa "7 Maravilhas de Origem Portuguesa", contribuindo com imagens por ele recolhidas para três álbuns fotográficos distribuídos pelos jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias, e realizou, para a "Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura", quatro documentários alusivos a figuras históricas da cidade-berço da nacionalidade.
Em Dezembro passado, tive o privilégio de estar com ele, como oradores, num colóquio realizado no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa e conjuntamente organizado pelo Observatório da Emigração e pela Associação Internacional de Lusodescendentes. Pretendeu-se, neste oportuno exercício académico, definir o conceito de "lusodescendente" e contribuir para um adequado mapeamento das comunidades portuguesas. Creio que a nossa participação, assim como a do professor macaense Carlos Piteira, suscitou uma compreensão muito mais alargada desse conceito, tendo em consideração a plurissecular comunidade macaense e a sua diáspora, além de outros grupos humanos dispersos que foram teimosamente resistindo até aos nossos dias, mantendo uma ligação, que a memória de gerações não permite cessar, à pátria de origem dos seus venerados antepassados e aos valores religiosos, morais e civilizacionais que deles herdaram.
"Portugueses no Oriente. Antes e depois de Fernão de Magalhães", lançado no Salão Nobre do Palácio da Independência, sede da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, a cuja direcção central e Conselho Supremo tive a honra de presidir ao longo de uma década, veio enriquecer este já muito relevante acervo. Que o livro proporcione a todos uma agradável e estimulante leitura e o seu sucesso editorial incentive o autor a ir sempre mais longe, porque muito podemos ainda esperar da sua capacidade, erudição, disponibilidade e generosidade.
O livro "Portugueses no Extremo Oriente. Antes e depois de Fernão de Magalhães", conforme uma sinopse preparada pelo autor, contém crónicas de viagem condimentadas com factos históricos em três espaços, diferentes nas suas características e iguais no Oceano que partilham: "Por estas águas navegaram portugueses, em busca do trato do cravo e da noz-moscada, bem antes da malograda epopeia de Fernão de Magalhães. As ilhas do arquipélago das Filipinas foram por eles designadas de 'Ilhas de São Lázaro'. Disso se fala na primeira parte do livro. Na segunda, tendo ainda como mote a expedição de Magalhães, já sem o próprio, fala-se do sultanato do Brunei, o reino do Bornéu, que sempre amistosa relação manteve com os comerciantes lusos. Na terceira parte, é coberta toda a costa norte de Java, analisando a presença portuguesa naquelas paragens. Logo após a conquista de Malaca, passaram a ser regularmente frequentados pelos navios da Coroa os portos daquela ilha. E continuam lá, para quem quiser descobrir, os sinais desse pioneiro contacto".
O volume, cuja leitura se recomenda vivamente, é das Edições Colibri, contendo a vistosa capa, de Raquel Ferreira, a fotografia de uma jovem bayingyi, luso-descendente de Myanmar, no interior de uma ruína da cidade histórica de Ava. Três dezenas de outras fotografias ilustram o conteúdo do livro.