Desde campanhas, influencers, ao preço dos medicamentos para deixar de fumar. Especialistas preocupados com crianças e jovens - SAPO 24
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A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) alertou esta semana para a necessidade de se proteger jovens e crianças das "táticas predatórias" da indústria do tabaco.
Em declarações à Lusa, Sofia Ravara, coordenadora da Comissão de Tabagismo da SPP, alerta mesmo para "o 'marketing' enganoso e perverso da indústria nas plataformas digitais e redes sociais, sobretudo dirigido para as crianças e adolescentes", sublinhando que "há uma rede de 'influencers' digitais pagos pela indústria para promover expressamente os seus produtos".
"O próprio 'design' e desenvolvimento dos produtos, os sabores, os aromas que são incorporados, como sabor a pastilha elástica, a morango, a baunilha, atraem muito os jovens e as crianças", disse à agência Lusa a coordenadora da Comissão de Tabagismo da SPP, Sofia Ravara.
Este alerta surgiu horas antes dos números avançados pela Associação Nacional de Farmácias (ANF) sobre a que acentuada queda do consumo de medicamentos para deixar de fumar, concretamente 19% nos últimos cinco anos.
Sofia Ravara diz que estes números demonstram a necessidade dos fármacos terem um preço mais acessível e serem comparticipados.
"O preço muito alto constitui uma barreira para as pessoas usarem os medicamentos e deixarem de fumar", afirmou a pneumologista, defendendo ser necessário dar incentivos financeiros aos fumadores para os encorajar a largarem o vício do tabaco.
Segundo Sofia Ravara, esse incentivo "é baixar o preço da compra da medicação e comparticipar os medicamentos".
Adiantou que este apoio é fundamental para aumentar a adesão à terapêutica farmacológica, sobretudo das populações mais vulneráveis que precisam de deixar de fumar e dos doentes crónicos que têm múltiplas patologias e já gastam muito dinheiro em medicação.
Defendeu, por outro lado, o aumento dos locais de consulta de cessação tabágica e que "os números de fumadores atendidos no SNS, mas também no sistema de saúde privado ou social, aumentem".
Citando dados do último inquérito populacional, como uma amostra representativa da população portuguesa dos 15 aos 74 anos, a pneumologista disse que o consumo de tabaco "é muito alto" ao longo da vida adulta.
"É muito alto (...) nos adultos jovens dos 25 aos 34 anos e aumenta sobretudo a partir dos 34 anos até aos 65 anos", idade a partir do qual o consumo de tabaco começa a diminuir, mas os benefícios de deixar de fumar são menores.
Segundo Sofia Ravara, 96% dos fumadores portugueses, independentemente do sexo, têm uma motivação baixa para deixar de fumar, o que atribuiu a Portugal ser "muito pouco proativo" a implementar as políticas públicas de controlo do tabagismo da Convenção Quadro da OMS.
*Com Lusa